sexta-feira, abril 11, 2008

O Estojo (9)

Deitou-se na cama a matutar sobre o que poderia ele ainda fazer pela relação. Sentia que, a cada dia que passava, eram menos as coisas que tinham para partilhar. Já pouco conversavam e, ultimamente, achava até que ela evitava olhar para ele. Levantou-se de um pulo.
Espantou os maus pensamentos andando de um lado para o outro, no quarto. Tinha de se concentrar, precisava urgentemente de uma boa ideia. Não podia precipitar-se como da última vez em que tinha tentado introduzir algo novo na relação:


– Tavares, pá… como é que eu – Joaquim sorria o sorriso dos nervos. – Pá… precisava que tu… tu deves ter…
– Depois de tantos anos, ainda tens que te engasgar comigo?

Estava convencido que o problema do seu casamento passava, em grande medida, por falta de sexo… e por total ausência de sexo com um mínimo de qualidade. Achou que uns filmes pornográficos os ajudariam: a ela, que era sempre distante e fria… e parada – embora nunca tenha sido capaz de lhe dizer tal – e a ele também, tão incapaz de saber o que fazer, tão monótono, tão despachado. A ideia surgiu-lhe quando leu uma reportagem sobre um Zoo na China onde, para aumentar a taxa de natalidade dos Pandas, lhes mostravam imagens de outros Pandas a ter relações.
Tavares, o seu melhor amigo, não tinha filmes pornográficos para emprestar, mas tinha uma sugestão:


– Alugas.
– Não sou membro de nenhum clube.
– Tornas-te.
– Hmmmmm…
– Já sei! Compras.
– Onde?

Tavares conhecia uma sex-shop na Baixa, mas Joaquim achou isso “muito perto”.


– Bom, há uma onde eu moro.
– Isso! Talvez…

Nunca tinha ido à Quinta do Infantado mas, com as indicações precisas do amigo, depressa achou A Loja do Mestre André Sex Shop. Estacionou à porta e deixou-se ficar no carro, a observar tudo à sua volta. Era hora de jantar e, quinze minutos depois, ninguém tinha entrado ou saído da loja, nem sequer passado por ali a pé.
Uma boneca insuflável, descaída sobre a perna esquerda, como se fosse coxa, estava a meio da montra, iluminada por uma luz vermelha. Joaquim imaginou-se a soprar-lhe no pipo e fez uma careta. Diversa parafernália sexual completava a decoração da montra. “Tudo coisas desconhecidas”, concluiu ele.
Levantou as golas do casaco, enterrou um boné até às orelhas e entrou, a olhar para o chão. Um expositor pequeno mas alto, repleto de caixas de dvd, estava junto da entrada e Joaquim colocou-se atrás dele. Dali podia ver sem ser visto.
Para além dele, apenas um empregado estava presente. Vestia fato e gravata – o que lhe causou estranheza a Joaquim – e parecia não ter dado pela sua entrada, curvado que estava na direcção de um pequeno ecran colocado no balcão. Parecia hipnotizado pelo que via.
Joaquim olhou em redor. Admirou-se com o facto da loja estar bem iluminada. Tinha imaginado uma coisa escura, peganhenta, com criaturas andrajosas a vaguear por corredores apertados e bafientos, mulheres desdentadas e de peles caídas a puxá-lo pela roupa para dentro de quartos que nunca se atreveu a imaginar. Em vez disso, deu por si num espaço amplo e fluorescente, onde se sentia no ar, aquilo que lhe pareceu ser um ligeiro odor a baunilha. Surpreendido, estava numa espécie de minimercado, onde a diferença residia apenas nos produtos expostos.

(continua)

boomp3.com

17 comentários:

O Lápis disse...

Também poderia ter telefonado para o Serviço de Urgências da "Mala Vermelha" :)

Até vão ao domicilio ;)

lélé disse...

Bem, se isso não resultar, acredito que voltam a relacionar-se via internet!...

Vanda disse...

Ai tu não me digas que é dessa loja que vem o ESTOJO!!! :)

ao que tu nos sujeitas ;)

eheheheh

Anónimo disse...

e começa a aventura do Joaquim

~pi disse...

ai que grandes emoções aqui!

estou mesmo...

rir rir rir!!! :)))

acho que agora vai começar a perguntar ao empregado

para que servem aquelas coisas todas

aquelas coisas com formas menos óbvias... i mean...:)

ROSASIVENTOS disse...

para sempre sempre apesar

cada instante

Leonor disse...

como estive ausente, consigo ler dois capítulos de uma só visita eheheh. ganhei em perspectiva, claro.
as tuas fotografias deixamram-se sem palavras e com uma pitada de inveja. se torno a abrir um blog e vejo mais fotografias que não me importava de ter sido eu a tirar ainda é capaz de me dar uma coisa, tenho que ver onde tenho a máquina digital que me saiu de brinde não sei de quê.
"mergulhei" aliás tanto nelas (como se faz aquele efeito de nevoeiro?) que depois a) nem as conseguia copiar (nem consegui) b) perdi-me e nem consegui voltar ao teu blog, tive que abrir outra vez o explorer.
tens que por lá umas instruções para tótós como eu.
não sabia que a osteoporose tinha aqueles efeitos secundários...
mas sim, podem sempre voltar á internet, essa facilitadora de contactos...

un dress disse...

reli: completamente deliciosa e bem... profunda,

a tua escrevinhação!!

tratado sobre os...costumes!?

talvez sociológico, mais isso.
ou algo assim a partir desta palavra...:)

pois a zona das antecâmaras...

fellinesca...

coisas peganhentas com peles a puxar,,,

bem... :)

pena o néon... pena...





beijO

Carla disse...

cheguei já o "estojo" vai avançado, mas estou a recuperar o tempo perdido
bom domingo

segurademim disse...

hum...

um bocado retardado!!!!!

JPD disse...

Débito conjugal

Uma figura do Código Civil. Funciona tanto para a consorte como para o consorte.

Ambos tem o dever de, tocando-se, procurar satisfazerem-se.

Os filmes são sempre uma hipótese.
Não o único indutor, claro.

Eyes wide open disse...

Eheheh... esta tua imaginação é o máximo.

*

Devaneante disse...

Continua excelente amigo Rui!... e cá continuo em suspenso à espera de ver o que mais vai sair deste estojo...

PS. Fotos magníficas!

Azul disse...

Olá Rui, Cá estou eu sedenta de notícias do casal maravilha. POis, a coisa não está fácil para aqueles lados, não senhor. Pela história que já lhes conhecemos, não me parece que mesmo um filmezito vá resultar, até porque, para já, não é garantido que o nosso Joaquim consiga efectivamente comprar algum. Veja: para tal, era necessário que tivesse tanta "audácia", o que não é garantido; depois, já pensou na dificuldade de escolher um, e apenas um, para levar? lol ; e depois, ainda há a fortíssima possibilidade de ter a Deolinda a adormecer no meio da película, e a não perceber que raio de filme foi o seu marido buscar para verem na máquina preciosa de dvd que a sua mãe lhe deu para, mais tarde, poder alugar filme de desenhos animados!!! lol Aguardo expectante pelos novos desenvolvimentos.

Um abraço para si. Até breve. Azul.

Olinda disse...

Os sopros nos pipos são como os blogues interessantes: sabem bem. :-)

4evergotik disse...

Ola
Andando por este grande mundo virtual...
Acabei por entrar aqui!
Gostei do que li.
O que um homem sofre para salvar um casamento...
Big kiss xoxx

Gi disse...

o que um homem não faz para salvar um casamento! Bem posia ele ir para a sala e ela para o quarto e falarem pela net, talvez se entusiasmassem e se encontrassem a meio do caminho ...

vou para o outro