Colégio Feminino 14 – Mais um Ano de Deboche. Filme exclusivamente com raparigas. Joaquim recordou o fiasco e engoliu em seco. Não, decididamente, não podia voltar a cometer erros, repetiu mais uma vez para si, enquanto continuava a caminhar de um lado para outro, no quarto.
Deteve-se em frente ao espelho que tinham por cima da cómoda e este devolveu-lhe um rosto sério, macilento e com olheiras. Desviou o olhar para a larga tira de renda que cobria a parte central do móvel e caía para os lados, até meio. Tinha vindo no enxoval de Deolinda, feita por Jesuína “com muito amor e carinho, a pensar num dia feliz como este”.
Em cima da renda estava uma pequena caixa de jóias em madeira. Abriu-a. Estava vazia. Abriu depois a primeira gaveta. Para além da roupa interior da mulher – também ela vinda no enxoval – encontrou lá as duas embalagens de perfume que lhe tinha oferecido no último ano. Abriu as caixas. Os frascos estavam cheios. Cheirou ambos. Na opinião dele, eram fragrâncias agradáveis.
Quando os olhos regressaram ao espelho, uma ideia começava a tomar forma no seu espírito. O rosto tinha-se animado.
Pegou no casaco e na carteira e saiu de casa.
– Boa tarde. Posso ajudá-lo? – uma rapariga morena, alta, magra, muito bem maquilhada e a cheirar a flores, sorria-lhe o sorriso mais resplandecente que ele alguma vez tinha visto.
– Er… pode, sim… eu, como é que lhe consigo explicar isto?! A minha mulher, ela… não é muito dada a estas coisas… – a vendedora da perfumaria mantinha o sorriso jovial e acenava ligeiramente com a cabeça, como se soubesse exactamente o que ele queria dizer, o que o tranquilizou. – Você sabe. Eu queria… vocês não têm à venda, tipo, um kit de beleza, com um pouco de tudo. Ela nunca usa e está a precisar.
Joaquim não voltou a casar. Vive actualmente em união de facto com uma colega de trabalho e tem uma filha dessa relação. Era suposto ele ficar com Afonso aos fins-de-semana, mas o rapaz dá noites más, chora muito – a avó Jesuína diz serem pesadelos causados pela separação dos pais – e, com a desculpa de não perturbar a irmã, passa quase todo o tempo em casa dos avós paternos.
Joaquim diz que é feliz.
Deolinda vive para o filho. Afirma com convicção não querer saber de mais homem nenhum. É mãe extremosa e ajuda os pais na loja enquanto o filho está na creche.
Nunca chegou a abrir o estojo de maquilhagem.