domingo, novembro 06, 2005

Voltaremos a ver-nos (final)

Menin, 19 Setembro 1917

Querida Lea,

Não imaginas a felicidade com que recebi a notícia da tua gravidez. Devolveu-me alguma da fé que tenho perdido a cada dia que aqui passo. As coisas de que o ser humano é capaz de fazer, não imaginas.

Preciso tanto de ti. Depois de amanhã nada vai voltar a ser como era. Amanhã vou entrar em combate.
Se há coisa que me assusta mais do que a ideia de não te voltar a ver, é recear que esta maldita guerra me torne um homem diferente daquele pelo qual te apaixonaste. Me torne numa pessoa pior.
Sinto-me muitas vezes possuído por sentimentos terríveis. Dou por mim a odiar tudo e todos. Sinto raiva e, por vezes, mesmo fúria. Tudo isto é novidade para mim, desconhecia-me capaz de tais coisas e assusto-me.

Por outro lado, sei que não me posso deixar dominar por sentimentos negativos e ideias pessimistas. Sei também que não é altura para filosofias. Chegou a hora da acção. Amanhã tenho que estar à altura do que me é exigido.
A tua gravidez deu-me a confiança de que necessitava.

Escrevo estas linhas e olho para o teu retrato no relógio que me ofereceste. Não me separei ainda dele e não vou separar nunca. É como se fosse uma parte de ti.
Meu Deus, como és linda. Amo-te muito.

Não vejo a hora de voltar para junto de ti.

19 comentários:

Sara MM disse...

Tanta dor... que horror... deve ter doído tanto a Lea ler estas palavras tão sentidas, sentir o passado tão presente... agora que era tarde, tarde demais... para ambos, para todos!

BJs

Maria Liberdade disse...

Mas a hora não chegou... Muito bonito e muito triste.

Porquê? disse...

Finalmente a parte mais esperada e também a mais triste....
Parece que a notícia da gravidez da Lea o deixou mais tranquilo e deu-lhe alguma segurança pois, acontecesse o que acontecesse, ela não ficaria sozinha!
Mais uma vez, parabéns pela história tão comovente!

Anónimo disse...

:(
É triste, mt triste! Consola-me o facto de ele ter morrido cheio de esperança e felicidade no filho/a que ía nascer. A esperança é a ultima a morrer mas até essa morre! :(

beijos ss

segurademim disse...

Bonito final para uma história trágica...
A vida prega cada partida às pessoas! este teu voltaremos a ver-nos também está cheio de mensagens e ensinamentos! gostei muito :)

Anónimo disse...

Temos smp algo connonsco, nunca ficamos completamente sozinhos. Ele tnh a foto dela, ela teve a filha... É uma história mto bonita, comovente e triste. Mostra o amor puro, doce e calmo... Estás de parabéns.
Sorrisos e Beijos

Anónimo disse...

Uma história triste mas muito bela. Tens uma capacidade enorme de cativar quem te lê do inicio... ao até ao fim :)Bjs

Anónimo disse...

Olha o que eu vim descobrir! Muito bom!

Grata pela visita.

:)

vero disse...

Cativas desde a primeira palavra!
Beijinhos***

Sukie disse...

Muito belo!Espero que ele volte rápido para junto dela.

Anónimo disse...

ele já morreu pá

Anónimo disse...

olá!
obrigada pela a visita ao meu blog,volta sempre!
gostei muito do teu blog,escreves muito bem,muito expressivo,cativante e parece mesmo verdadeiro,neste pouco que li desta história a esperança é mesma a última a morrer!
jinhos
fatima

Anónimo disse...

Pois...

(coff cofffffff...)

Pela primeira vez venho aqui dizer-te que fiquei... "decepcionada" com o desfecho do teu conto!
Como já tive oportunidade de te explicar, tenho pena que tenhas alterado a maneira como eles se tratavam (coisa que tinhas conseguido tão bem anteriormente) e acho que, a carta em si, acrescenta pouco mais do que a gravidez da Lea ...
Esse pormenor talvez ficasse melhor introduzido na altura em que a Lea lê a carta (sem dares muitos mais pormenores), na altura em que descreves o conteúdo da caixa que estava no jazigo da família ou então na altura em que ele morre (dares a entender que ele pensou na Lea e na filha) enquanto o resto da informação da carta poderia ter sido diluída em outros momentos da acção…
Enfim, é a minha opinião. (não penses que só te passo a mão no pêlo, eheheh) :P

O importante é escreveres, mesmo, sempre que te apetecer… :)
Aprendemos todos com isso, não é? ;)

Beijooo

Inês

Margarida Atheling disse...

Tão triste!
Mas muito bonito!

Maheve disse...

Oi! Obrigada pela tua visita lá o meu blog. Se na verdade coincidimos nos temas tratados é que temos as mesmas inquietudes diante do mundo. Ainda bem que não estou sozinha nestes "desabafos". Seja sempre bem vindo ao nosso 'In Labirintus', espero que vc se sinta em casa.
Um grande abraço

Alberto Oliveira disse...

Acompanhei o conto (se assim o posso denominar) e gostei francamente. Escreves com fluência e descreves ambiências "de outros tempos mais recuados" com facilidade o que não é muito comum aqui pela blogsfera e que revela "conhecimento de causa" ou alguma pesquisa. E a leitura foi muito agradável de seguir.
Mais não te posso adiantar porque... não sou crítico literário e as opções pelo enredo cabem ao autor.

Marta disse...

e o que se sente quando se recebe uma carta assim? um misto de amor com medo de perder a pessoa que se ama...
adorei. bjs

Anónimo disse...

Ficou mto bem, sim... tb n seria de esperar outra coisa... Como sempre, lembrei-me logo de um poema (desta vez n foi música, se bem q o PM tb n ficasse mal aqui), q me é mto querido quando se fala de 'true love'. Aqui fica a minha parte preferida de "Funeral Blues" de W. H. Auden :)

"...He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever; I was wrong."

LD

Vampiria disse...

Escrevo estas linhas e olho para o teu retrato no relógio que me ofereceste. Não me separei ainda dele e não vou separar nunca. É como se fosse uma parte de ti.
Meu Deus, como és linda. Amo-te muito.

HMMMMMM - que maravilha de texto!
Obrigada!
Fez me sentir bem lê-lo.