A montanha vermelha surgiu no desfazer de uma curva apertada. Que coisa estranha, em plena planície, por entre as árvores, uma montanha vermelha e em movimento.
Com os soluços da estrada, ia-se desmoronando à frente deles. Um bocado de vermelho aqui, outro ali. Plaaaf! E outro e outro. Plaaaf! Plaaaf! O alcatrão era uma imensa tela escura, onde manchas de vermelho se iam pintando.
Talvez fosse da noite mal dormida, pela antecipação da viagem, talvez fossem os seus quatro anos condicionados pelas histórias que sempre pedia que lhe contassem, antes de adormecer – fantásticas, com personagens estranhos, em locais longínquos e muito diferentes; sítios que ele, um dia, iria visitar. Ou talvez fosse mesmo uma montanha vermelha que seguia à frente do carro, nas voltas da estrada, sempre ladeadas de frondoso arvoredo.
No banco de trás, quase de pé, João não tirava os olhos de tão incrível acontecimento. Achou que talvez os pais da montanha também lhe contassem histórias de locais fantásticos, antes de adormecer, e ela os fosse agora visitar.
Claro, só podia ser isso.
Ao entrar numa enorme recta, onde o sol chegava filtrado pelos ramos das árvores, o Fiat deu um grande solavanco, fez um barulho rouco e arrastado e depois, num assomo de energia, ganhou velocidade. Pouca mas, ainda assim, suficiente para se colocar lado a lado com as grandes rodas escuras da montanha. O rapaz colou o nariz à janela e bateu no vidro. Gritou:
23 comentários:
Hoje estou muito bem disposta, por isso quero apenas partilhar esta emoção deixando aqui um grande beijinho. Quero desejar-te uma excelente semana e agradecer as palavras e amizade que tens depositado no meu...caos.
Até breve!
;O)
eu também quero uma montanha vermelha...onde chegar em dias de sol rubro
beijos
música: veludo laminar ~
beijO
Os pais da montanha: a,e, e, o, u. :-)
Belíssima história, Rui.
Fantástica.
Adorei ver um puto com tanto discernimento!
Sempre ouvi dizer que, quanto mais depressa mais devagar, que não se deve dar um passo maior que a perna, etc.... É um conto a fixar, para contar à minha sobrinha. Gostei imenso.
smoke gets in your eyes!!!??
"... uma boa solução para quebrar a monotonia ambiental: montanhas com rodas. E porque não rios com asas ou cidades com pés? E os avós das aldeias, os pais dos continentes, os filhos dos oceanos e os sobrinhos dos regatos?
Ó João! se tu soubesses o que se pode fazer de conta com este planeta...
Como é fantástico o mundo visto pelos olhos de uma criança!...
Há crianças muito atentas e com vontade de chegar... A sítios.
E a musica lembra-me uma viagem de noite, com as sombras a passar, numa estrada longe nos EUA. E chegar sim aquela imensidão de paz: Grand Canyon. é dificil não ter vontade de abrir as asas e sobrevoar.
Há crianças muito atentas e com vontade de chegar... A sítios.
E a musica lembra-me uma viagem de noite, com as sombras a passar, numa estrada longe nos EUA. E chegar sim aquela imensidão de paz: Grand Canyon. é dificil não ter vontade de abrir as asas e sobrevoar.
golpe de realismo
in esperado
[ pés de montanha em
trânsito transado ~
Que delícia.
Li-te e tive vontade de regressar àquele tempo da minha vida em que montanhas vermelhas com rodas era algo normal... :)
Li-te e tive vontade de regressar àquele tempo da minha vida em que montanhas vermelhas com rodas era algo normal... :)
Tão lindo.
O paraíso parece sempre longe. E os sonhos de uma criança sempre revigorantes.
Belo texto. Beijooo
Sou novata nestas lides da blogosfera, mas encontrei este cantinho e gostei bastante dos textos! :)
Espero q arranjes um tempinho pa visitar o meu bloguinho (ainda recem-nascido) e deixes a tua opinião! ;)
Bom fim de semana*
A Gi vai estar ausente do blogue uns tempos devido a "sindroma vertiginoso". Nada de grave, apenas não pode estar frente ao computador.
Obrigada
Montanhas vermelhas, com Pais a contar histórias, e rodas para se deslocarem... aqui está um bom ponto de partida para um texto mais "sério" e, sobretudo, ilustrável.
A natureza (a vida, na verdade) e a imaginação não têm limites...
Esta semana publico um post sobre como a pensar morreu um burro. vais perceber a relação...
gosto bastante das tuas selecções musicais
:-)
O último comentário é o remate perfeito...
CSD
Lembraste-me do tempo em que não havia IP's, nem IC's, nem A's, e que ir para os meus bué bué longes significava uma viagem loooonga... e muitas vezes tinhamos o azar de apanhar um desses camiões carregados de tomate a 30 à hora em estradas de intermináveis traços contínuos.
:)
*
... são longe mas não inatingíveis
a dormir, meio acordado, desperto ou birrente, é sempre fabuloso viajar no banco de trás ... com os pais
em velocidade aceitável, embalando os sonhos e a vontade de chegar
...o que os olhos-meninos não sabiam é que as viagens são todas assim...vamos largando pedaços aqui e ali, talvez na esperança de encontrarmos o caminho de regresso.
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