terça-feira, janeiro 10, 2006

O Erro de Exeter, New Hampshire

Numa noite fria de Outubro de 1999, estava eu à procura de metades de amendoim numa tigela cheia de sal e fava-rica, no bar do costume, quando chega o Hugo.

Não sei se se recordam, mas em 1999 vivia-se a febre da (suposta) passagem do milénio: o Y2K aterrorizava as almas, era a electricidade que ia faltar, os computadores que iam deixar de computar… o caos ao virar do ano. Para os mais crédulos, a profecia do fim do mundo ia cumprir-se, os sinais estavam todos lá.

- Pessoal, vocês sabem que eu não sou crente nem crédulo, mas fiquei esta manhã a saber de uma coisa que me deixou perturbado – diz o Hugo com ar sério e nervoso. – Então não é que a passagem de ano vai calhar a uma sexta-feira 13? Depois de saber isto já não sei se no que acreditar.
Todos achámos um tremendo disparate, mas ninguém percebeu. Ficámos boa parte da noite a desancar nas teorias absurdas de que o mundo ia acabar, até porque, na verdade, a passagem do milénio seria só no ano seguinte.
O Hugo agora já não parecia preocupado, apenas bastante divertido. Umas três cervejas depois, tossicou, fez uma pose e disse: - Eu tenho-os ouvido com atenção mas há uma coisa que eu ainda não percebi: como é que a passagem de ano vai acontecer no dia 13…
Silêncio. Os presentes naquela mesa entrecruzam olhares durante vários segundos. Depois, a galhofa geral e o reconhecimento de que tínhamos sido uns otários.
Contada com o devido ar sério e com a entoação correcta, aquela estória enganou muita gente.

O titulo deste post é outro exemplo de como certas coisas nos escapam. Vou tentar explicar: ele está relacionado com o Dan Brown, autor d’ “O Código Da Vinci”. É que também o título desse livro lido por milhões de pessoas, contém um erro tão evidente que a maioria dos leitores não dá por isso.
O nome do livro remete para uma pessoa: Leonardo da Vinci. Só que o nome do senhor, como era frequente na altura, significa Leonardo DE Vinci, sendo que Vinci é a localidade onde ele nasceu e não um nome de família, um apelido que o distinguisse, por assim dizer, de outras famílias.

Ou seja, o nome do livro remete para uma pessoa mas de uma forma errada. Era o mesmo que dizer que se o livro tivesse sido escrito sobre alguém conhecido como o Fanã da Baixa da Banheira, se chamaria “O Código da Baixa da Banheira”. O que remetia para o local e não para a pessoa - Exeter é o local onde o Dan Brown nasceu.

Isto tudo para simplesmente dizer que, muitas vezes, quando as coisas são demasiado óbvias, não as vemos, escapam-se por entre os nossos dedos como areia fina.
Da mesma maneira, temos tendência para não questionar certas coisas só porque elas sempre foram assim ou são assim há muito tempo.
E isto também sobre nós próprios. Não devíamos vir programados para, tal como os automóveis, fazermos uma revisão periódica de quem somos, do que queremos? Questionarmo-nos a nós próprios - sem, evidentemente, nos colocarmos em causa?

29 comentários:

Rui disse...

Sobre o Leonardo, deixo aqui as conclusões deste estudo importantissimo:

Computador desvenda o segredo do sorriso da Monalisa

Um computador da Universidade de Amsterdão analisou a Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, e concluiu que a Gioconda era uma mulher 83% feliz, 9% enjoada, 6% assustada e 2% incomodada. O estudo será publicado no próximo número da revista New Scientist, no próximo sábado.


Através de um programa de reconhecimento de emoções, o aparelho analisou a tela do século xV para tentar revelar o que escondia o enigmático sorriso. O software, desenvolvido em colaboração com a Universidade de Illinois, nos EUA tenta determinar os sentimentos que experimenta uma pessoa através da análise de seus traços faciais, como a curvatura dos lábios ou as rugas dos olhos.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=44&id_news=205827

Anónimo disse...

Mt bom, mt bom mesmo! Mas agora nao posso perder mais tempo pois tenho que ir fazer a minha "revisão" ;))))

beijos
ss

Anónimo disse...

Magnifico este texto...dá que pensar :) Um beijo enorme

Rui disse...

O software tem razões que a própria razão desconhece? Só sei o que diz a noticia. :)

Ana P. disse...

Eu sou a de Sines, pode ser? E já agora eui não cai na história da sexta-feira 13....Tava atenta pah...

Jinhus

Ana

Anónimo disse...

Não sei se fará muito sentido ou não o que vou dizer...mas a mim parece me que a mente humana por vezes se adianta, como uma espécie de bug que temos cá dentro e faz um click e retemos aquilo como se fosse certo...
É mais ou menos como aquele estudo cientifico que provou que se nos puserem à frente um texto em que as palavras só apareçam com as letras do inicio e do fim...automaticamente o nosso cerebro reconhece as e consegue ler na integra o texto apresentado. Pode ser uma hipotese??? Mas aquela da sexta feira 13..fim de ano lololo! O que se reteu foi imediatamente o problema da profecia e esqueceu se da armadilha da afirmação ;P

Desconhecida disse...

É verdade sim, muitas das vezes as respostas que procuramos estão mesmo à nossa frente, e nós não vemos...ou não queremos ver.

E vendo por essa perspectiva, de facto tens razão quanto ao título do livro.

Sara MM disse...

;o)

mas há coisas que nos acoentecem que obrigam mesmo a essa revisão! senão damos o berro, ai se damos!!

Sara MM disse...

( ai andas à caça do erro?!...
...então e "mudar-mos"?? eh!eh! tomatomatoma! )

M.M. disse...

Excelente post, gostei imenso.
É verdade, maior parte das vezes não vimos aquilo que é mais óbvio.
Bjs.

Anónimo disse...

You twisted mind... as coisas q vais desencantar de vez em qdo até arrepiam... ehehehe
Gostei do post, mas isso tb n é novidade! A da revisão soou-me mto bem :) a meu ver, tal como todos os dias nos levantamos para ir trabalhar, esforçamo-nos para estarmos actualizados com o mundo, dever-se-ia aplicar ao nosso dia a dia... trabalhar a nossa pessoa, as nossas relações, mantermo-nos actualizados com os amigos, com as vidas que nos rodeiam... afinal o mundo está tão 'longe' e eles estão mm ali ao lado... preocupamo-nos tanto em saber o q se passa a milhares de km e n nos damos ao trabalho de ver o q está a dois passos...

Fiquem bem!
LD

Anónimo disse...

"Uma mentira repetida cem vezes transforma-se em verdade", já dizia o chefe da propaganda Nazi.


___________________________

Dani disse...

Desculpa, mas isso é uma interpretação, tal como pode haver muitas outras. O que disses-te está correcto, mas Da Vinci passou de tal maneira a ser associado a Leonardo, que se tornou um nome em si mesmo, e não me parece que esteja errado usá-lo como se do nome do senhor se tratasse.

Anónimo disse...

Questões pertinentes são sim Sr.
Uma que me assalta o cérebro frequentemente, é a capacidade de retenção de líquidos dos pensos higiénicos, vamos meditar.
Todos os anos surge um penso mais pequeno e mais fino que o anterior, com uma capacidade de absorção 4 vezes superior.
Ora se começar-mos com uma capacidade mínima de absorção, desde a invenção do penso higiénico, chegamos à conclusão que os pensos higiénicos actualmente ou são tecnologia alienígena ou então isto não passa de mais uma do Luís de Matos.
São litros e mais litros.

Pronto já desabafei.
Desculpem ok.

Um abraço

Lagoa_Azul disse...

É por essas e por outras que comprei o livro que citas e o ofereci a um amigo, como sou um pouco do contra em tudo na vida, sou cadinho alergica a tudo o que os outros leem e gostam tanto que se vende aos milhoes, a parte comercial de qualquer coisa me tira do serio, até pode ser um bom livro, mas pronto...
A moral da historia que aqui encontro, se é que deva haver moral, é que nem tudo o que se parece é...

Beijos com carinho.

Meia Lua disse...

Sim, para mim devemos sempre questionar a nossa posição no mundo, o que quermemos, onde estamos e se onde estamos é onde queríamos estar...faz parte da busca do ser humano. Muitas pessoas tornam-se comodistas por vários factores e deixam-se levar por medo de mudar ou de acabar com o falso "equilibrio" que as suas vidas têm...
Parte de cada um ver, sentir, explorar... é uma viagem solitária que fazemos acompanhados de nós mesmos ;)
beijinho

Margarida Atheling disse...

Deviamos sim!
É vital fazê-las, sob pena de nos perdermos de nós mesmos!

Vilma disse...

Sem dúvida alguma Rui! Questionar é saudável e como costumo dizer a dúvida leva à fé! Duvidar não é mal nenhum, assim como o questionar! Foi por eu muito questionar que hoje estou no Caminho! É como dizes: por vezes o óbvio está tão à nossa frente que não o vemos! :)))))

Mipo disse...

óbvio... realmente, quando as coisas saltam à vista é custam perceber!

A revisão periódica não é mal pensada; tem apenas um busilis - depende muito do mecânico. É que, quando se analisa demasiado, o evidente volta a tornar-se obscuro.

segurademim disse...

... naqueles passatempos de descubra as diferenças erro sempre! parecem-me sp aquelas que não são!!!!
ainda bem que agora podemos mandar tudo para o RX !

(Roma é uma cidade maravilhosa... e lembra-te que todos os caminhos lá vão dar!)

BJ :)

Anónimo disse...

Questionar smp para nos entendermos e conhcermo-nos
Sorrisos com beijos

Anónimo disse...

Excelente. Bjs da Jaqui

Alberto Oliveira disse...

Da Vinci, cidade onde nasceu Leonardo, é uma cidade mundialmente conhecida porque o artista nasceu lá.
Em qualquer parte do mundo, quando se ouve ou se lê, Da Vinci, de imediato se associa o nome do artista.
Prefiro ter a minha agilidade mental treinada para detectar & questionar outro tipo de situações e a que, regra geral,não se lhes dá a importância desejável.
Sobre a questão de "tal como os automóveis, fazermos uma revisão periódica..." só a posso entender como uma piada... pesada, que o deixa de ser quando finaliza o seu post com "Questionarmo-nos a nós próprios -sem, evidentemente, nos colacarmos em causa."

manhã disse...

Muitos apelidos consolidam-se com o tempo a partir das terras onde as famílias moravam.Não está incorrecto.
Questionarmo-nos sem nos pormos em causa? Parece-me boa ideia.

Mónica disse...

o óbvio é por vezes tão díficil de ver!!!

e pior é que por vezes o sofrimento que provoca...

:)

susana disse...

Eu sou da opinião do DAni, o título não foi nenhum deslize.Foi propositado, para chamar mais a atenção do púlico! Se tivessem posto o Código de Leonardo, não daria tanto impacto, Da Vinci sim!!Associa-se sempre um certo mistério a essa palavra!!Como se costuma dizer...leonardos há muitos mas Da Vinci...só um!

GNM disse...

Rui, não me parece que tenha sido nehum erro, mas antes uma opção estratégica. O que importa não é o facto de Vinci ser a cidade natal de Leonardo, mas antes o facto de o artista em causa ser identificado pelo grande público por esse nome.

A literatura dos nossos dias deve ser subversiva, (o próprio livro de que falamos tenta ser subversivo, se o consegue ou não, compete ao leitor avaliar)e não, ser um exemplo de perfeição semantica.

Mas esta é apenas a minha opinião, vale o que vale...

Bom fim de semana...
Fica bem e sorri!

mixtu disse...

é a pura das verdades, por vezes somos mesmo cegos..
saludos

Decisões Criticas disse...

Porque um erro deve ser emendado.

Leonardo Da Vinci, artista italiano que teve o seu apogeu na época do renascimento, nasceu em 15/04/1452 em Anchiano, vilarejo de Vinci.
Era filho ilegítimo de Piero da Vinci, um jovem advogado e de Caterina, provavelmente uma camponesa, embora seja sugerido, com poucas evidências, que ela era uma escrava judia oriunda do Oriente Médio comprada por Piero.
O próprio Leonardo Da Vinci assinava seus trabalhos simplesmente como Leonardo ou Io Leonardo. A maioria das autoridades se refere aos seus trabalhos como Leonardos e não Da Vincis. Presume-se que ele não usou o nome do pai por causa do estado ilegítimo.