quinta-feira, julho 28, 2005

Às Compras no Hipermercado

Ontem à noite fui às compras.
Se há coisa que eu não gosto de fazer é ir às compras. É muito stress. Exige muito de mim. Pede-me o que eu não tenho para dar.
Mas é daquelas coisas que tem de ser (existem as compras on-line, eu sei, mas ainda não me converti). De vez em quando sai-me a fava e o caminho é o do Hipermercado.
Ainda por cima moro a 100 metros de um (Carrefour) e a 500 metros de outro (Feira Nova), o que diminui logo drasticamente algumas boas desculpas para adiar a ida às compras.

Prefiro o Carrefour, o de Telheiras. Mas aquilo que é hoje, pouco tem a ver com o que era há uns anos atrás. Antigamente diferenciava-se por apresentar uma gama de produtos de mais qualidade. O preço não contava muito. Alguns produtos só se encontravam lá.
Isto também tornava a clientela diferente. A maioria tinha um ar distinto, selecto, respiravam saúde.
Hoje não. O Carrefour entrou em competição directa com os outros. Luta no preço, ao cêntimo. O slogan é “O Mais Barato da Região”. Há algum tempo criou mesmo uma marca própria, 1 (imaginem o algarismo dentro de um circulo; fatela até dizer chega).
Agora, as estantes que antes primavam pela sobriedade, estão atulhadas de cartazes com cores berrantes a anunciar que mais barato não há.

Tento lidar com o stress da ida às compras, organizando a coisa ao pormenor: lista feita, planeio mentalmente o trajecto a fazer, moeda para o carro das compras, enfim, planeamento tipo operação militar.
Chegada a hora, respiro fundo, faço uma oração à Sra. dos Aflitos e parto.
É quando lá chego que a coisa começa a correr mal. Invariavelmente a lista fica na porta do frigorífico, a moeda na gaveta e o pânico se instala.
Se a questão da moeda facilmente se supera (o Carrefour nisso é mãos largas e tem muitas para dar; em casa devo ter mais de 1.000€ em moedas de 50 cêntimos), o da lista em falta é bem mais problemático. Só resta confiar na memória e isso já não é garantia de nada.

Para os padrões nacionais, que são de vanguarda mundial nesta matéria, este Carrefour é pequeno (nós gostamos de tudo em grande quando se trata de compras, não concordam? até no preço, se é barato não é para mim, que não sou pindérico). Ora, como os senhores que mandam no estabelecimento querem ter uma oferta variada, isso obriga a que o espaço para circular seja pouco. Seja que dia for, que hora for, está sempre congestionado. Até porque ninguém abdica de levar o carro das compras mesmo até ao sítio do produto desejado.
Deixar o carro parado num local que não estorve a circulação e ir buscar as coisas que estão perto é que não pode ser. É sinal de fraqueza, é pouco tuga. Lançam-nos olhares desconfiados. “Este também deve ser daqueles que conduz na faixa da direita na auto-estrada”, adivinho-lhes eu no pensamento.
E conduz-se no Hiper como se conduz na estrada. Dar passagem? era o davas. Encostar o carro a uma estante para não o deixar no meio do corredor? querias, “vai de volta parvalhão, ou então espera que eu chegue com as latas de atum”.
Também não percebo porque é que os corredores estão sempre cheios de porta-paletes abandonados. Usam-nos para repor as prateleiras mas nunca começam e acabam sem fazer um intervalo.
Mas ala para as compras que se faz tarde.

Gosto muito de pão e não consigo perceber porque é que nos Hipermercados o pão não vale a ponta de um corno. É azar meu ou é assim em todo o lado? e quem fala em pão, fala na pastelaria em geral. E a carne que é 80% água e gordura, rija como sola de sapato?
E como se não bastasse uma pessoa já sofrer só por ir às compras, as marcas ainda pioram tudo.
Chega-se aos detergentes, roupa, por exemplo, uns têm lixívia, outros acção efervescente, uns são para roupa branca, outros para de cor, há para roupa preta, e para roupa às riscas, há os que evitam a pré-lavagem, outros fazem a roupa secar mais depressa. Mas o que é isto? Só podem estar a gozar comigo. Quem é que se consegue entender? Eu não. Fecho os olhos e agarro num ao calhas.
E é implicância minha ou a publicidade ao Skyp anda há anos e anos a dizer que agora é que é, com esta nova fórmula é que não há nódoa que resista. Ai agora é que é? Então andei a ser enganado estes anos todos, ou não?
E o azeite? Em quantos tipos de acidez já vai? Quantas ervas diferentes já eles conseguiram enfiar dentro do azeite? E o vinagre a mesma coisa. Achei também piada ao facto de já haver óleo especial para fritar congelados.
Ingénuo, foi comprar um pacote de batatas fritas. Onduladas, lisas, light, com menos 30% de gordura… esperem, com menos 40% de gordura, fritas em óleo vegetal, em óleo de girassol, caseiras, receita da avó… bardamerda pr’as batatas.
E que história é esta de ultimamente as águas com gás terem ganho sabores? “É bom, toda a gente gosta. É a água daquele maluco da televisão, da Frize, está na moda”. Já ocupam quase um corredor inteiro.
Até a Água das Pedras ganhou uma irmã, a Levíssima… flutua e tudo. Vou para comprar a Água das Pedras e não há, só da flutuante. Qualquer dia tiram o álcool ao Licor Beirão.
Nos refrigerantes não há sumo de laranja! Manga e Tangerina? Há. Ameixa, Papaia e Kiwi? Não pode faltar. Diospiro com Anona? Com certeza. Sumo de Laranja? Está “out”. Já não se usa, só os pobres de espírito bebem disso.
Se há sitio que me aflige em particular é a secção das frutas e legumes. Ainda lá não cheguei e já me estou a amofinar.
Vou às maçãs. Do Chile, da Argentina, de Itália, de Espanha… mau, então e das nossas? Nada a fazer, não há. Terão sido todas gastas nos iogurtes da Danone? Espero que sim.
Os alhos vêm da China. Juro por todos os santinhos do altar que já vi alhos chineses à venda no Carrefour. Goste-se muito, pouco ou nada, temos que reconhecer que os chineses são danados para o comércio. Até os alhos nos conseguem impingir. Acho que também diz algo sobre nós, mas isso agora não interessa.

Tenho um defeito: gosto muito de melão. É de família. Se me cruzo com um bom melão, é a desgraça de ambos. Acreditem que até das pevides gosto. Experimentem, tirem-lhe a casca e deliciem-se.
Mas como diz o povo, os melões só depois de abertos e eu não sei escolher melões. Também não dou parte fraca. Ponho o meu ar de Engenheiro e faço os melões rebolar um pouco, só então pego num. Ar desconfiado, aperto o cu do melão, naaaa nunca m’enganaste, outro, também não, mais um… é claro que isto é só fita, bem podia pegar num qualquer, mas admitir a minha ignorância em pleno Hiper? Nunca.

Ontem ia-me envolvendo numa cena de pancadaria com uma velhinha na secção dos legumes.
O Carrefour faz-nos pesar os produtos. Junto às balanças a confusão é sempre muita. Ontem esqueci-me da Courgette e tive de voltar atrás. A velhinha à minha frente estava aflita a tirar os melões de dentro do carro e a rapariga que estava na balança fez-me sinal para avançar. O que eu fui fazer. A velha não gostou que eu metesse a minha Courgette à frente dos melões dela.
Arma-se ali um trinta e um que nem vos conto. Mas a velha teve azar, ontem não me fiquei. Já estava disposto a dar com a Courgette na tola da velha, quando um cliente mais sensato me afastou do local.
Vai um gajo às compras contrariado e ainda tem que levar com as velhas do inferno, que têm o dia todo para ir às compras mas esperam sempre pelo fim do dia só para poderem atazanar o juízo aos outros.

Outra coisa que me chateia no Carrefour é um gajo que lá vai de vez em quando vender salpicões.
O desgraçado do velho está possuído pelo mafarrico e ninguém se importa.
O que o gajo grita. “Olhó salpicão de Arganil”, “Olhó salpicão de Arganil”, “Olhó salpicão de Arganil”.
Ele sabe-a toda, isso tem de se admitir. Enquanto as miúdas que lá vão fazer a demonstração do novo fiambre cozido em forno a lenha, quase não abrem a boca, mesmo com os clientes ali parados à espera de serem atendidos, o possuído anda pelos corredores atrás dos incautos e se vê alguém distraído, aproxima-se por trás e grita: “Olhó salpicão de Arganil”.
E não é que o tipo se safa? Tem de safar, está lá tanta vez.

Já estou em estado caótico e ainda me falta passar por um tormento horrendo: a caixa.
É raro haver mais do que 20% de caixas a funcionar. As filas são sempre a perder de vista.
Ainda quando calha um artista das novelas da TVI ou um jogador da bola, temos com que nos entreter (“ena, o gajo tem uma borbulha”, “afinal não é assim tão alto”, “ganda gordo”… também lá vejo de vez em quando artistas do sexo feminino…).
No outro dia estava lá aquele actor/modelo (ou é modelo/actor?), o… ai que já não me lembro outra vez (quando me lembrar, coloco o nome do tipo). (Entretanto, e com ajuda preciosa, descobri o nome do rapaz: Pedro Lima).
A menina da caixa estava que não podia mais. Viam-se as palpitações do seu pobre coração, tal o estado em que estava. Era só dentes. Quando ele foi embora, teve de telefonar à melhor amiga, tal o seu estado perturbado.

Não sei se acreditam no destino, se são fatalistas. Eu tenho tendência a não ligar a isso, mas no Hipermercado não há volta a dar-lhe, sou obrigado a ser.
É fatal como o destino que haja problemas com as compras do cliente à minha frente. Sempre, nunca falha!
Ontem foi o quarto de presunto a que faltava um dígito no código de barras.
Pensam que a senhora, desistiu do presunto industrial? Está bem. Logo daquele belo quarto de presunto saído de um porco que tinha partilhado a suinicultura com porcos pretos. Qualidade daquela não se deixa para trás.
E lá pára tudo. Telefonema da ordem. Eis a patinadora que chega. Com a sua mini-saia esvoaçante, desliza por entre os carros mal estacionados evitando o acidente com destreza. Lá vai ela em busca do dígito perdido. Não faz mal, eu espero.

Na caixa é fundamental apresentar o Cartão Família (invenção esperta, que dá ao Hipermercado um resumo das compras de cada família). O Cartão vai comigo para todo o lado. Dá desconto. Acumula o que vamos poupando para mais tarde descontarmos.
Já consegui juntar 33 cêntimos! “quer que desconte”? pergunta sempre a menina da caixa. “Desconte sim”, surpreendo-a eu. Sei lá o que me vai acontecer e sempre são 33 cêntimos.

Quando chego a casa e vou arrumar as coisas no frigorífico, vejo a lista esquecida. É sempre o mesmo, quase metade ficou por comprar.
Amanhã tenho de lá voltar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Estava a ler-te e a reconhecer-me a mim própria....
Gostei particularmente da cena de dares com a courgette na cabeça da velha...foi um momento muito eloquente eheheheheeheheehehe
Beijos daqueles

Anónimo disse...

Pois, eu é mais comercio tradicional, ali tudo do bom e do melhor, galinha, coelho, borrego e porco é da criação dos pais e sogros, e alguma fruta e legumes, melão e melancia até me vão levar à porta e á pala, enfim morar no cu de judas tem as suaa vatangens.
P.S. um dia vi o Tim do Xutos atras de mim na caixa, não disse nada, mas quando foi pa pagar suspirei ( aiiiiiiiiiii a minha vidaaaaaaaaaaa )Xutos forever
abraços

Anónimo disse...

ehehhe Rui, ctg até ir ao supermercado é hilariante!
bjs ss

Anónimo disse...

ora eu aqui a ver-me ao espelho....ainda gosto menos pois que n me esqueço da lista, para não ter que voltar!
eheheheh

ze disse...

A memória quando funciona é terrivelmente eficaz e capaz de nos fazer esquecer das mesquinhices das listas das compras por troca por algo quiçá menos útil mas seguramente mais interessante, que foi o que de lá trouxeste.