domingo, julho 17, 2005

Nesta Data Querida.

Mais um aniversário que se aproxima.
Confesso que nunca fui muito dado a comemorações nesta data. Nunca achei que houvesse muito a comemorar.
É uma ocasião que sempre me fez lembrar que o fim está mais próximo – sim, eu sei que é um bocadinho tétrico demais, mas a verdade é que nesta altura do ano sempre me confrontei com o muito que ficou para fazer e que assim vai continuar… por fazer.
Nem sequer consegui ver o aniversário como apenas uma boa desculpa para uma festa, para se juntar os amigos, receber umas prendinhas. Uma espécie de Natal e Ano Novo no mesmo dia e só para nós.
Como não seria capaz de convidar uns amigos e não convidar outros, acabava sempre por achar que estava a pessoas que não se conhecem, que não têm muito em comum entre elas. Ainda para mais, achava que as estava a meter em despesas, ou seja, convidava-as para uma refeição em que cada um pagava o seu, mais a prenda que acabavam sempre por comprar.
Isto não deixa de ser estranho. Até porque quando sou convidado para aniversários, eu vou, pago o jantarinho e levo prenda, sem que isso me faça sentir mal. Não fico a pensar “lá me cravaram mais uma prenda”.

A este propósito, recordo os aniversários de um amigo meu de infância que acabam, de alguma maneira, por ser o oposto dos meus.
Por circunstância várias, foi fazendo um grupo de amigos em que predominavam aqueles que eu considero serem umas pessoas um pouco afectadas (nariz empinado, eles de cabelo gelificado e impecavelmente penteado para trás, elas com a pose decalcada das senhoras que apareciam na Hola!). Aposto que me consideravam um afectado também, mas com uma nuance: eu seria afectado do clima.
Devo dizer que não eram todos os amigos, apenas que estes pareciam dominar, especialmente nos ajuntamentos comemorativos de mais um aniversário.

Curiosa a evolução. Nos primeiros tempos era jantar na Valenciana (em Lisboa; quem conhece sabe do que estou a falar, quem não conhece fique a saber que é um restaurante onde a ementa para grupos permitia escolher entre o frango assado e os escalopes de porco grelhados; os acompanhamentos eram sempre os mesmos: a boa da batata frita com o óleo de fritura incluído, o arroz enformado e a rodela de tomate a cavalo na fiel companheira folha de alface; o barulho, ensurdecedor). Mas as coisas iam mudar.
Num determinado ano fui surpreendido. Telefona-me ele, “aniversário, juntar alguns amigos, gostava que fosses”, respondo eu, “claro, pá, em que dia, a que horas?, “este ano vai ser diferente”, diz ele.
Qual Valenciana. Nesse ano iríamos “beber um copo, apenas” ao Chester’s (este bar/restaurante digamos que é uma coisa discreta, num local discreto, a versão possível de um clube de fumo britânico).
E durante alguns anos lá nos juntámos no Chester’s. Todos muito selectos. Eles com as suas carreiras de sucesso, eu, pouco selecto e sem carreira, a tentar decidir se já não parecia muito mal pirar-me (só dois apartes: o primeiro, que o Chester’s me fazia ter saudades da batata frita da Valenciana, o segundo, que a despesa era maior mesmo que só bebendo).

Flash-Forward. Estamos agora no presente. Já há uns anos que não há ajuntamento no Chester’s. A vida dá voltas e uma série de azares a nível profissional, têm trazido o meu amigo triste (e são mesmo azares, que ele é bom naquilo que faz).
Ele é agora um pai babado de uma linda menina que fez há poucas semanas um ano. E houve festa de aniversário. Fui convidado e lá estava com o maior dos gostos.
A certa altura dei por mim a reparar que dos afectados nem sinal. Dos antigamente só eu e outro.
Não quero com isto dizer que as festas de aniversário não fazem sentido, porque daqui a uns anos sabemos lá o que pode acontecer. Se convidamos aquelas pessoas é porque, naquele momento, queremos estar com elas.
Trata-se apenas de um exemplo oposto ao meu.

Curioso que nunca antes tinha pensado muito nas razões de nunca ter feito nada por ter uma festa de aniversário. Este ano deu-me para isto. Deve ser uma espécie de balanço.
Dou por mim a pensar se não exagerei um pouco. É que, por mais que pense nisso, não me recordo de alguma vez ter tido uma festa de aniversário.
Existem fotos de uma festa quando fiz cinco anos. Não me lembro dela mas sei que existiu. Daí para a frente zero, nada.
Lembro-me de, certo ano, ter ido com dois amigos meus ao centro da Amadora dar uma volta e de lhes ter pago um pão com chouriço (hei, uma a cada um, está bem?).
Noutro ano fui com um grupo de amigos ao Cine Plaza ver “Os Marginais”, do Coppola, no meu dia de anos. Lembro-me de sair de lá a pensar que isto de ser marginal tinha que se lhe dissesse. Ah, e não houve pão com chouriço para ninguém que era um grupo maior!

Ao longo dos anos devo ter pago uns copos a mais alguns amigos, mas fora isso, nunca promovi nenhuma reunião.
Estupidez minha, dirão vocês. Acredito que sim. Eu próprio não tenho a certeza de ter feito bem, como já disse.
Mas este ano, nem me passou pela cabeça fazê-lo. Está a passar agora, que escrevo isto.
Mas agora já é tarde.

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite vzinho ;) Parabens!!!! Li a sua reflexão e deixe-me dizer-lhe que gostei muito :) mas.. nao concordei com uma coisa... já é tarde para pensar em comemorar o seu aniversário? ò vzinho telefone lá aos seus Amigos e vá beber um copo com eles. Nunca é tarde para pensar em comemorar algo importante. E hoje é um dia importante... é o Seu Dia!

Rui, desejo que passes um dia muito muito feliz com mtos sorrisos que iluminem o teu olhar... que este dia se repita por muitos anos com tudo de bom :)

Beijinhos
(VizinhaDaPortaAoLado)

S disse...

Deixa-me dizer-te que me identifiquei tanto com este texto, rui.
Curioso, ainda à pouco comentava com a 'coelho' que nunca tinha tido festas de aniversário, sem saber que minutos depois iria ler isto.
Fazemos anos em datas próximas...deve ser por isso! é uma mal (ou não) contagiante.

Rui disse...

nunca mais tinha lido isto :)

entretanto, o tal meu amigo deixou-se de festas de aniversário, divorciou-se, andou meio perdido e agora acho-o mais... encontrado.

e eu tive direito a uma festa de aniversário surpresa!

S disse...

Sim, a vida, por vezes pode mudar tanto...mas não necessariamente para pior. Eu também me acho mais 'encontrada'!

Hum...festas de aniversário surpresa... este ano tentaram fazer-me uma, mas foi falhada! Eu agradeci na mesma e com grande alivio.
;)