quinta-feira, setembro 01, 2005

Enquanto Estive Fora - A Sul

Fui ao Algarve pela primeira vez com 5 anos e desde então só não voltei lá um ano. Inclusivamente, já lá vivi. Conheço-o de uma ponta à outra, literalmente. Uns sítios melhor que outros, claro, mas conheço-o bem.
Fiz, portanto, o caminho para sul centenas de vezes. Muito desesperei eu naquela estrada. O suplicio que era.
Sempre me pareceu um flagrante exemplo do atraso do país, não haver uma auto-estrada para o Algarve, para mais, sendo o local de férias de milhares de pessoas, nacionais e estrangeiras. Há 10 anos a A2 terminava em Setúbal, a 42 kms de Lisboa!
Mas agora já há auto-estrada e a viagem tornou-se mais cómoda e segura… e cara: Lisboa – Algarve 17€, mas isso é outro assunto.

Este ano fui para a zona de Vilamoura, onde não ia há alguns anos. Fui para um sitio com um nome pomposo: um Country Club, o que é muito bem.
Desconfio sempre destes nomes em inglês. Lá chegado pude constatar isso mesmo, de Club não vi sinal e do Country também não – não me parece que algumas árvores e relva justifiquem o nome.
Este Country Club não passa de alguma Villas equipadas com uma pequena cozinha e, portanto, não disponibiliza serviços de restauração, ou seja, ou se come sempre fora ou se vai às compras. Ainda mal cheguei e já estou no Alisuper de Vilamoura!
Bolas que a inflação aqui é superior ao resto do país. E sazonal, dizem-me. Mais uns dias e baixa.
Arrumadas as compras, piscina, que já tenho saudades do cloro.
De regresso a “casa” (deixem-me chamar-lhe assim para facilitar), formigas tomaram de assalto a cozinha, estão por todo lado às centenas. Percebi então: estava no campo, Country Club, batia certo.

À noite fui a Vilamoura propriamente dita, downtown. Nunca percebi o encanto da terra. De onde vem o proveito, a fama? O que é que as pessoas vêem ali? Eu confesso que vejo pouco. Não me parece muito diferente de Quarteira. Tem um Casino, tem bons hotéis, uma Marina e, de facto, vêem-se por lá mais pessoas saudáveis, melhores carros, mas isso é o efeito, eu interrogo-me quanto à causa, a origem de tudo. Não tem praias diferentes das outras, não tem microclima, não tem paisagens particulares… não sei.
Lá fui. Até à Marina, pois claro, fora isso não há muito mais para fazer/ver. Tudo a chinelar para a frente e para trás; os barcos (alguns arrestados); os restaurantes e bares (curioso como em frente ao bar do Figo o ajuntamento de pessoas era maior, estariam com esperanças de o ver na esplanada a beber uma caipirinha?), e está visto.
Vamos lá comer um gelado. Uma minibola de gelado 2€? Íamos. Não é sovinice, mas custa-me ser assaltado. Na praia a mesma coisa. Nos bares da praia da Falésia 1,5 lt de água, 3€, como se ali o ar fosse mais rico em oxigénio, como se a areia não tivesse beatas ou não se tivesse de deixar o carro no meio do matagal e longe (tem a sua piada ver um Porsche no meio do mato, ao lado do Fiat Uno).

Tirei um dia para ir à Manta Rota, que tem sido o meu local de destino nos últimos anos. Havia que matar saudades de uma feijoada de lingueirão.

Na noite seguinte fui a Albufeira. Gosto mais. A confusão é a mesma mas, ainda assim, há mais para ver, mais onde ir, mais animação. Deve também ter a ver com o facto de me ter divertido em Albufeira quando era mais novo. Gosto de regressar a certos sítios, recordar algumas noites bem passadas (vejo que tiraram o carro do Vegas, que a IRS é agora uma urbanização).
Numa segunda noite em Albufeira, jantei no restaurante “A Ruína”. Deve ser dos poucos restaurantes em que se pode comer desde o rés-do-chão (na praia), até ao telhado, passando por, salvo erro, 3 andares. Não percebi o nome, está tudo muito bem conservado e com apresentação.
A vista é muito bonita. Praticamente só se come peixe, o que, para um consumidor preferencial de carne, é óptimo. Menu não existe, vai-se a um balcão e escolhe-se lá. Tudo muito bem.
Depois veio a conta. Tudo mal! Uma mísera posta de bacalhau, 20€? Meia dúzia de amêijoas, 25€? (o grama de amêijoa deve estar em competição renhida com o de cocaína). E não é sovinice, repito, mas aperta-se-me o coração.
Foi então que percebi também o nome do restaurante: a ruína é do incauto que lá vai comer. Eles bem avisam, até se vê ao longe. Culpa minha.

Passou-se assim uma semana de férias: piscina, praia e passeios pelas redondezas (campos de golfe, imensos; mas não chegam, a junta metropolitana do Algarve aprovou por estes dias mais 50 campos!). Descansou-se menos, mas também foi bom.

No sábado jogou outra vez o Benfica. O tal jantar não vai mesmo ser no próximo ano.

Domingo estou de regresso. Reparo em duas coisas: como certas partes do Alentejo estão muito parecidas com desertos… assustadoramente parecidas; e nas marcas de travagens no asfalto.
Sempre me impressionaram muito aqueles riscos. Se falassem, as histórias trágicas que alguns contariam. Não posso deixar de reparar nas curvas desesperadas que fazem, na maneira abrupta como alguns terminam no separador central, na valeta.
Acho que um livro de fotos destas marcas poderia fazer algum sucesso numa campanha da Prevenção Rodoviária.

Lisboa. Desembrulhar a trouxa que amanhã começa tudo outra vez.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pessoalmente sempre preferi o Barlavento Algarvio...ainda assim, algumas zonas conseguem ser mais selvagens, puras e não muito alteradas pela mão humana. Tenho encontrado algumas praias, meio escondidas, de difícil acesso, é verdade (algumas de razoável acesso, outras com caminhos de cabras e outras ainda em que, para aceder à praia, tem que se descer por uma corda eheheeheehehehehe enfim, é dois em um, praia e rapel, só para espiritos aventureiros), mas verdadeiros paraísos quase inexplorados e desconhecidos. Nunca tive espirito de rebanho e, às custas disso, tenho encontrado verdadeiras pérolas naturais.
Florestas de betão, confusão, engarrafamentos, dificuldades de estacionamento, patos bravos, oportunistas "sazonais", não obrigado, dispenso, pelo menos não é esse o meu entendimento de férias, já me basta o resto do ano.
Mas assusta-me acreditar que Portugal inteiro esteja condenado à construção arbitrária de mamarrachos, aos incêndios, aos atentados ecológicos, ao crescimento desenfreado e insustentado...e tudo isto como consequência do facilitismo, do desleixo, da falta de rigor e de exigência, da falta de pensamento estratégico e em prol de interesses económicos, enfim...vai sempre dar tudo ao mesmo, não é?
Mas quero mesmo acreditar que isso não vai acontecer...
Portugal tem um património natural tão bonito... Espero que as gerações futuras tenham o privilégio de o ver e de o usufruir.
Beijos daqueles

Tracinho

Apontamento 1 - é melhor começar a identificar-me, pois parece que já não sou a única a mandar beijos daqueles

Apontamento 2 - começo a achar-me a comentadora politica do teu blog ehehehehehehehehe...
beijinhos do Tracinho Rebelo de Sousa Tavares

Anónimo disse...

OLá OLá
fiquei com vontade de contar as minhas, mas... é melhor não, ou então...não sei talvez.
E o nome do blog?
já sei
Beneficios do Sexo puro e duro. :-)
abraços.

Esse jantar vai levar mais tempo do que julgas.