sexta-feira, setembro 09, 2005

A Boleia - 2ª Parte

Conseguiu controlar-se fisicamente mas mentalmente estava todo desarticulado. Enquanto o computador desligava, tentou organizar as ideias. Repetia para si próprio que não era razão para tanto.
A sua relação com as mulheres tinha sido sempre algo complicada. A sua falta de confiança nunca lhe tinha permitido afirmar-se. Esta noite estava determinado a não deixar que isso lhe acontecesse.
Mal tinha pensado nisso, lembrou-se de que apenas ia dar boleia a uma colega, não se tratava propriamente de um encontro, de uma saída a dois.
- Foda-se, descontrai-te, pá - disse alto.
Ficou paralisado. Teria ela ouvido? Teve a sensação que ela estava à porta, a olhá-lo. Teve receio de erguer os olhos e de a ver. Olhou e ela não estava lá. Abanou a cabeça e respirou fundo.

Paula estava de pé, a olhar pela janela para o rio. Parecia ausente, com o olhar perdido na escuridão das águas.
Parado à porta, ele viu o seu reflexo na janela. Era muito pequeno ao lado dela, ali reflectido na janela.
- Pronta?
- Sim, vamos.
Paula desligou a luz, accionou o alarme e fechou a porta blindada do escritório. Quando o elevador chegou e a porta se abriu, apareceram os dois reflectidos no espelho. Agora do mesmo tamanho. Na mente dele aquele momento ficou gravado como uma fotografia, ela como seu ar impenetrável, ele com o seu sorriso afectado.
O gesto de Paula a carregar no botão do piso 0, funcionou como um clarificador de ideias para ele. Afastou todos os pensamentos pessimistas e sentiu-se confiante. Estranhamente confiante.

Não queria, mas era mais forte que ele. Apesar de estar a fazer um esforço por fazer conversa de circunstância, só pensava na saia justa de Paula, naqueles saltos altos, nos lábios dela. Fez um esforço por se controlar, mas não foi capaz de dizer nada.
O chão da entrada do moderno edifício de escritórios era de mármore. O som que cada passo dela fazia penetrava-lhe a mente como uma baioneta incandescente, aquele som característico dos saltos contra a pedra como que falava com ele, cada passo soava-lhe a S – E – X – O. Não conseguiu evitar uma erecção. Também a cara lhe ferveu.
O segurança abriu-lhes a porta e cumprimentou-os.

Apesar daquele momento de “fraqueza” (pois era assim que ele via a erecção que não conseguiu evitar), estava algo espantado consigo próprio. O tumulto interno estava em grande medida dominado e estava concentrado, não sentia agora aqueles nervos que o impediam de raciocinar, que lhe tolhiam a acção.
Destrancou as portas com o comando à distância e abriu-lhe a porta. O movimento dela a sentar-se abalou-o. Tinha de disfarçar aquela erecção a todo o custo.
Como ela mexia com ele. Podia contar pelos dedos de uma mão as mulheres que lhe tinham provocado aquele tipo de erecções. Erecções ponta-e-mola, como lhe chamava. Não era uma coisa que se fosse manifestando aos poucos, que fosse “crescendo”. Não, nestes casos, com aquelas mulheres, era do oito ao oitenta em 2 segundos. Bastava um gesto, um movimento das pernas, um jeito com a cabeça, um olhar. Pequenas coisas para a maioria, mas que para ele se tornavam em algo verdadeiramente extraordinário, inexplicável, mas muito presente, muito forte.
Lembrou-se do constrangimento em que se tinha visto há uns meses, quando no café onde estava com colegas, depois de almoço, ela passou pela mesa onde estavam. Daquilo que sentiu, da tesão que lhe tinha dado. De os colegas se terem levantado “para aproveitar a boleia” dela de volta ao escritório e ele ter de inventar uma desculpa esfarrapada para não ir. Não se podia levantar. Ia-se perceber. Pediu a um colega para lhe ir comprar uma água com gás, estava indisposto…
Agora ali estava, com ela, no seu carro. O som das meias quando ela roçava as pernas uma na outra.
Ia ser uma viagem difícil até casa dela, pensou. Olhou para ela e sorriu, ela devolveu-lhe um sorriso de circunstância.
Conseguiu fazer conversa durante o caminho: como estava bonita a noite; como gostava de conduzir na cidade à noite, com pouco trânsito e longe das confusões de uma sexta à noite; a música que ia passando no rádio. Ela foi sempre respondendo de uma maneira simpática mas sem nunca ser expansiva. Não ficou a saber mais nada sobre ela.

Paula morava em Benfica, no edifício do Centro Comercial Fonte Nova. Parou à entrada, “eu abro-lhe a porta”. Ao sair, olhou para baixo e pensou “porta-te bem, não me deixes ficar mal”… pelo sim, pelo não, contornou o carro pela traseira.
O movimento dela a sair do carro pareceu-lhe de uma elegância extrema, mas não teve que se preocupar com as possíveis consequências, ela fitou-o e disse - Estaciona, sobe.
Sem esperar por resposta, ajeitou a saia e seguiu para a entrada do prédio.
Todo o sangue que lhe afluía ao sexo, fez uma imediata inversão de sentido e disparou na direcção da cabeça. Sentiu uma tontura. Sentiu a cara a ficar quente, as orelhas. A pizza pareceu revoltar-se no estômago, sentiu um nó nas tripas. Algumas gotas de suor frio perlaram-lhe a testa.
Amaldiçoou-se. Era um homem ponta-e-mola. Tantas reacções em tão pouco tempo, instantâneas. Aquela mulher mexia mesmo muito com ele.
Conseguiu algum domínio sobre as suas emoções, sobre o seu raciocínio. Era só um convite para subir, nada mais. Possivelmente queria discutir alguma coisa de trabalho.

Felizmente havia um local para estacionar perto. Desligou o carro, baixou a pala e olhou-se ao espelho, “coragem rapaz”. Limpou o suor com um kleenex e saiu.
Paula aguardava-o à entrada do prédio, na parte interior. Apesar de ele ter demorado um pouco, não parecia impaciente. Era como se soubesse aquilo por que ele estava a passar.
Ele ainda pensou em dizer algo, mas limitou-se a sorrir. Mais uma vez ela devolveu-lhe o sorriso, mas desta vez pareceu-lhe um sorriso divertido, não apenas um sorriso de circunstância.
Entraram no elevador. Ela carregou no botão do 8º andar e olhou-se ao espelho. Ele não sabia o que pensar daquele silêncio dela, não facilitava nada aquela mulher. Sabia que devia dizer alguma coisa, mas tinha a garganta seca demais para falar.
Paula tinha todo o ar de saber o que fazer na cama e de ser muito exigente mas, ao mesmo tempo, de ser muito compensadora. Por mais que não quisesse, era nisso que ele estava a pensar.

- Chegámos – disse ela, abrindo a porta do elevador.
Sentiu o perfume dela e teve nova erecção.


2 comentários:

Anónimo disse...

Engraçado... foi como se estivesse lá e presenciasse tudo isto :) estou expectante :)))
LD

Anónimo disse...

Porra...tantas erecções homem! take it easy, senão algo precoce pode acontecer no momento decisivo...ehehheheheheheheh