La Bodeguita de Verín era um edifício isolado, à beira de uma estrada secundária, junto ao rio Tâmega espanhol. Construído sob o comprido, tinha dois pisos, albergando o de baixo um restaurante e um bar – com entradas separadas – e o de cima uma pensão.
Todo ele estava iluminado. Centenas de pequenas luzes de várias cores piscavam apesar de ainda haver alguma luz natural.
Uma nuvem de insectos agitava-se freneticamente junto a uma luz vermelha, por cima da entrada do bar, prenunciando o movimento que iria haver mais tarde.
O carro contornou o edifício e estacionou nas traseiras, junto a dois imundos contentores de lixo. O homem saiu e abriu a porta de trás.
A única porta das traseiras dava acesso à cozinha, que estava vazia.
- Estou fodido com vocês, fosse eu um dos gajos do Quintana e já estavas com os miolos espalhados no chão.
- Não diga isso, eu estava aqui a pensar na vida…
- Levas aqui a… como te chamas, mesmo?
- Ar… Arminda. – Balbuciou ela a custo. Tinha a garganta seca e tremia.
- Temos que fazer alguma coisa em relação a esse nome… bom, levas a miúda para o quarto que está vago e aqueces-lhe o que sobrou do almoço.
- Calmeirona ela, patrão.
O quarto era um cubículo escuro e rectangular, onde pouco mais cabia que as duas camas e a cómoda que lá existiam. Havia uma janela com vidros opacos que não abria, uma ventoinha no tecto e um pequeno candeeiro que pouca luz conseguia fazer passar pela protecção que tinha. A decoração era composta por papel de parede com cornucópias castanhas gigantes e um quadro em que duas figuras femininas estilizadas deitavam a língua de fora uma à outra.
Arminda reparou que, à esquerda, junto à porta, uma cortina escondia uma outra divisão. Afastou-o, era a casa de banho. Tinha um pequeno lavatório, um espelho, uma sanita e, a um canto, um chuveiro ferrugento fixo na parede por cima de um ralo. O cheiro a canos fazia sentir-se.
Sentiu as lágrimas prestes a cair-lhe quando ouviu passos. Era Natalino.
Como não tinha o que beber, abriu a torneira da casa de banho. Após uns roncos e soluços, um líquido acastanhado pingou no lavatório. Mais uns roncos e um fio de água suja caiu, por fim.
Arminda deixou-se cair e não conseguiu suster mais as lágrimas.
Parecia haver muito movimento no corredor. Ouviam-se muitas vozes e risos. Conseguiu adormecer já tarde. Sonhou muito.
Pegou na blusa, estava cheia do que lhe pareceu serem pequenos espelhos redondos. Brilhava.
A saia era mínima, ficava-lhe bem acima do joelho, pensou. Os sapatos eram vermelhos, com a mesma forma dos que via as senhoras usarem nas revistas; tinha um salto fino e muito alto. Jamais seria capaz de andar com aquilo.
Sentada na cama, encostou-se ao canto, com as pernas encolhidas, encostadas ao peito. Pela primeira vez, sabia o que era ter medo verdadeiro.
Na moldura da porta, distinguiu uma silhueta escura. Era enorme.
25 comentários:
Eu bem presenti, desde o início, que isto não ia acabar nada bem!
Beijinhos
Sacana do Laureano...coitada da Arminda...não pares..quero este Livro!!!
Bj
Continua a parecer-me familiar ;P Não me agrada nem um pouco o rumo desta rapariga! Ai ai ai a ingenuidade de uma mulher...Enfim esperemos que a pobre consiga ter forças para escapar!
Continua...está cada vez melhor!
P.s. By the way (e num tom meramente provocatório...;P)
...
Ssoooooooooorrrrrrrrrrrrtinggggggggggggggggggg ;)))
Beijos
com calma, vou ler, mas antes digo-te que os teus comentários são por nomra muito certeiros...
bjs
Oh docemaleficofeliz, pasteis de bacalhau, para a travessia do rio? :)
Nunca experimentei mas a cerveja é anti enjoo. Garanto :)
Agora vou ler a carinha laroca...
Van
(não consigo como blogger, porquê?)
...olha que "bodega" tinha que calhar à miuda!
Ainda vai ter saudades da serrania, da pequena aldeia...
Espero para ler o VII...
Beijinhos maléficos :)
Hum... estou mesmo a gostar, fico à espera do próximo
irra!... o que dói nesta ficção é saber que isto acontece de verdade!...
Magnífico. Este é um trilho Profundo... que já me habituei a trilhar...
tu queres nos matar rui... tu queres nos matar de curiosidade homem de deus... ;-) bjs e até amanhã
que ainda agora aqui cheguei, ao teu blog, e já tou uma viciada do pior!!!
... ai ai Arminda, quando a cabeça não tem juizo...
Bjokas Rui da Jaqui ;-)
Os malefícios...
Ruizinho, nao te esqueças que gosto de finais felizes, sim? Arranja aí qq coisa, tipo o homem que tava á porta era o irmão, o pai, um tio desconhecido que a vinha salvar. E ela voltava pra serra, encontrava o amor da vida dela e era muito feliz. Pode ser?
bjs
... eu acho ( mas o autor é que decide) que a Arminda está mesmo metida numa embrulhada dos diabos e com grande dificuldade isto vai ter um final feliz.
Que isso dos finais felizes é no cinema e nos romances de cordel. Aqui, trata-se da realidade a papel químico...
NOTA: deixei um comment no capítulo anterior... A velocidade do carro e a noite má lá de cima desorganizaram-me...
Só esoero que o fim da história dê uma lição bem dada ao Laureano, pode ser?
bom... isto está-se a complicar, venha daí um desenrolar complicado, de fazer chorar as meninas...
excelente,
abraço
Continua, eu já tenho o meu exemplar reservado não é?? ;))
Por muitos e bons... :)
Beijoss
Inês
P.S. - Vai preparando o batôm de cieiro :P
P.S.- Ohh Legível... gostei dessa da "realidade a papel quimico" ;)))
Mas.... se isto for de terror, avisa!!!!!!!!!!!!!!!!!
A vida é mesmo dura....eu para aqui à espera e o setimo papel quimico ainda no segredo dos Deuses! :)
:) Gracas a Deus que és ateu :)
Continuo a adorar os pormenores e pressinto que vais abordar 2 temas um pouco "polémicos"... espero ansiosa pelo restantes capítulos.
Bjnhs
olá Rui:)) ler-te é fascinante. O teu encadear de palavras que nos dás a ideia da realidade.
Deixo o novo endereço para leres virtualrealidade
Bom fim de semana
jinho
Isa
Excelente texto que mais não é do que um retrato bem real da vida de muita gente...beijinhos e votos de uma boa semana :)
agora focas-te no olhar... um beijo
... que horror!!!!
;)
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