Braga, 5 de Setembro 1997
Calculo que estejas a pensar que já me deste todas as oportunidades do mundo, mas desta vez, acredita em mim, é a sério, eu quero mudar mas só o vou conseguir com a tua ajuda. Preciso de ti.
Pousou a folha de caderno amarelecida em que aquela carta tinha sido escrita e mordeu o lábio inferior.
Tentou identificar as emoções que sentia naquele momento. Antes de abrir o envelope, tinha tido a esperança de que não sentiria nada para além de indiferença, mas tinha-se enganado. Sentia algo, mas não sabia o que era.
Olhou novamente para a folha de papel. A letra desajeitada do pai, que tão bem conhecia. Imaginou o quanto lhe terá custado escrever aquelas linhas. Apoiou ambos os cotovelos na mesa e escondeu a cara nas mãos.
Aquela sempre fora a sua divisão preferida da casa, nenhuma outra tinha aquela luz natural durante todo o dia. Fora sempre ali que fizera os seus trabalhos de casa, lido os seus livros de aventuras favoritos. Tinha sido ali que passara os melhores momentos com a sua mãe.
As melhores recordações que tinha dela eram dos momentos em que as duas se divertiam a cozinhar enquanto falavam das suas vidas. Tinha sido ali que mãe lhe tinha pedido juízo dezenas de vezes, tinha sido ali que contara à mãe do seu primeiro namorado.
Por momentos, tinha-se transportado para essa infância e adolescência despreocupada, em que tinha sido feliz. Via a sua mãe com o avental favorito a descascar maçãs para fazer uma tarte e ela, em cima de um banco, a ajudar a mãe.
Por uma coincidência em que já tinha reparado, faria amanhã exactamente 9 anos em que entrara naquela cozinha, de madrugada, vinda do seu quarto e fechara os olhos com força. Sentia-se ali mais à vontade de olhos fechados do que a ter que enfrentar aquelas sombras em movimento.
Aproximou-se da porta que dava para o jardim e, o mais silenciosamente que pode, rodou a chave a maçaneta da porta, saindo para o jardim.
Recordou do vento gelado e o limoeiro que se agitava. Não tinha olhado para trás e não tinha voltado nunca mais.
30 comentários:
É inevitável!
Uma pessoa tem de fazer o que tem de fazer.
já tens lá um recadito ;o)
qt à Patrícia... volto depois, tá?
BJs
Há decisões inevitaveis, e por vezes são inevitaveis para nos libertarmos de determinadas situações. Eu penso demasiado, em situações dificeis não consigo romper e tomar decisões radicais....por isso muitas coisas se arrastam e depois por força do destino acabam por acontecer mudanças mesmo sem as querer. É mais doloroso...mas tem mesmo que ser! Beijos
Vou esperar pelo fim para comentar...
Beijão na nuca
odeio recordações de estimação... e odeio a nostalgia da lua cheia...
BJs
(PS-bem sabes que hoje tens de me dar um desconto...)
Rui:
Para a palavra fantasia aparecer assim como a estás a ver (em itálico), teclas primeiro < i > (sem espaços), depois teclas a palavra pretendida (fantasia) e logo a seguir teclas < / i > (sem espaços)*
* Tive de espaçar os caracteres; se o não fizesse o comment não entraria. Dava erro. Para escreveres a bould, a técnica é a mesma; nesse caso, em vez do "i" escreves "b".
Experimenta.
Acho que foi inevitável deixar ele partir (rs)... para que estragar um relacionamento tão agradável?
Teste recebido em perfeitas condições!!
Depopis venhop comentar este teu post...
Hmmm, estou ansiosa pelo final! Não sei se já disse isto, mas a fluidez com que escreves é super cativante! :)
Uma carta que nunca foi enviada... uma filha que volta à sua casa e não encontra o pai... o que será que guardas aí contigo?
beijinho
espero que a carta tenha sido recebida a tempo e horas e que o limoeiro, agora, esteja carregadinho de fruto!!!
;)
chorei com este conto... tocou-me... há mesmo muitas emoções envolvidas... E está tão bem escrito!...
numa visão otimista, prefiro acreditar que ela decidiu preservar aquele momento, tão perfeito quanto possível... Beijo.
Rui,
apareci aqui através do teu comentário no blog da Vilma. Gostei deste conto. Conto? mas torço para que esta carta tenha chegado a tempo das coisas serem esclarecidas!
"Eis que estou a porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei e ele comigo." Apoc.3:20
Não queres ceiar com Jesus?
A porta é o teu coração! Deixa Cristo entrar por opção! Quem sabe não tiveste ainda esta oportunidade?!
Abraços de uma amiga brasileira
Só para te mandar um beijo...
as asas de borboleta descansam de forma serena...
Hummmm isto promete!
Beijos
Nem sei o que dizer, estas histórias comevem-me, são tão reais...
Muito bem escrito.
Beijinho
Olha, revi-me um pouco no papel da filha, porque tem quase a minha idade, porque tmb saí de casa, porque de vez em qd tmb vou a casa deles, mas... com a única dif. e mais atroz, o meu pai nunca me escreveu a pedir que voltasse... Desculpa o desabafo... :((((((
Fechar os olhos para não encarar os problemas...?
Fechar os olhos para melhor os encarar!
Muito bonita a história!
Bem meu amigo Rui, para quem reclamou um dia da inpiração...uma história da vida...
Beijos com carinho.
Como é minha norma, o comentário para os teus posts de duas partes fica para "o fim da história"...
Muito bonito!
Mas agora vê se não demoras com a segunda parte. Esta deixou-me suspensa!
E vou esperando os próximos capítulos...
Fica bem!
Eu fiz o mesmo quando tinha 23 anos, o meu pai só me viu passado um ano!!!Isto é uma história que se deve passar em muitas famílias!!Gostei muito!!Está bem escrito e tem intensidade dramática!!!Outro que podes mandar publicar!!
O outro tentaste???
Espero pelo resto... Gostei do início
SOrrisos com beijos
Bom fim de semana
Gostei muito.
Parabéns!
Mas afinal eu é que sou nova, nisto!
Quero mais!
Já gostei da primeira parte,agora fico á espera da continuação...
Beijinhos!!
Prendeste-me...
Ainda bem que já tenho mais duas partes para ler...
*a_mais_fofa*
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