
Os primeiros sons passaram despercebidos aos adultos mas não à criança, que logo se pôs de pé, à escuta, só para ter a absoluta certeza. Eram marteladas descompassadas no telhado, primeiro espaçadas, logo depois uma torrente impetuosa que se alastrou às janelas, cujas vidraças pareciam não estar preparadas para a suster. Quando os adultos ergueram as cabeças dos seus afazeres domésticos, foi para ver a criança a desaparecer na moldura da porta, correndo para a rua, também ele impetuoso. Foram encontrá-lo de joelhos no chão, em pleno passeio, indiferente ao granizo que lhe ia acertando nas costas e na cabeça. “Que fazes”? “Sai daí”. “Tu levas”! gritaram-lhe da protecção da ombreira. “Já, imediatamente”! “Queres ver…” Mas ele não via nem ouvia, consumido pelo desgosto da ausência de gosto. As pedradas do céu acalmaram, por fim, e a mãe foi dar com ele a chupar um grande pedaço de gelo. Sobre ele, caíram então interjeições de incredulidade e violência prometida, que aleijavam mais que qualquer pedrisco.
“Porquê, diz-me só porquê”?! pediu a mãe por entre desconcertante esbracejar, depois de o ter arrastado por um braço para casa. Não lhe respondeu, indo-se fechar no quarto. À janela, procurou sem sucesso consolo na água em que se iam metamorfoseando os seixos gelados. Poderia o seu melhor amigo lhe ter mentido ao contar o quão doce era a neve que um dia comera?
14 comentários:
Fizeste-me lembrar o dia em que comi algodão doce até quase vomitar, já lá vão uns valentes anos... agora antes comer granizo!
Pois é dos fenómenos atmosféricos que mais gosto. Lembram-me a minha infância e as saraivadas (como se diz no norte) de Agosto.
Eu também as comia, brancas e frias, brancas e rijas a desafiarem o calor da boca. :)
Gostei tanto de ler. :) beijinho
Coitado do puto! Primeiro, um melhor amigo que o engana. Segundo, tem daquelas mães que batem nos filhos, quando estes já tiveram o azar de cair... e quanto mais se aleijou, mais leva!...
E assim se acumulam sucessivos 'choques de realidade', que nos transformam em hospedeiros de cepticismo quando chegados à idade adulta...
'Very nice' ;)
A Lelé é que pôs o dedo na ferida (pudera, depois de porrada de criar bicho, não haver uns golpes sanguinolentos, seria pura ficção... )mas a mim ninguém me tira os grandes calores.
Também comi algodão doce na Feira Popular de Lisboa enquanto me deliciava a ver a destreza dos motociclistas no Poço da Morte e me arrepiava (de riso) no Combóio Fantasma.
legível,
na próxima sexta-feira não há comboios: os fantasmas fazem greve.
Rui,
Já me tinham dado a lamentável notícia. Pelo andar da carruagem, eu que tirei férias para ir para as praias da linha, lá terei de andar com o horário... das greves no bolso. Ou seja, num dia bronzeio-me, no outro queimam-me. O juízo.
Antes que me esqueça: já tenho visíveis (e audíveis) as cenas musicais do teu blog. Porreiro, pá!
vá de Metro, satanás! (acho que o Metro não tem ainda greves marcadas) essa frase dá arrepios.
de metro vá ou poreiro pá?
qualquer delas tanto me dá
dessas está cheio o inferno
seja no verão ou inverno
à cautela vou a pé
ali beber um café.
...traigo
sangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...
desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ
COMPARTIENDO ILUSION
RUI
CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...
ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CARROS DE FUEGO, MEMORIAS DE AFRICA , CHAPLIN MONOCULO NOMBRE DE LA ROSA, ALBATROS GLADIATOR, ACEBO CUMBRES BORRASCOSAS, ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER ,CHOCOLATE Y CREPUSCULO 1 Y2.
José
Ramón...
então? isto por aqui anda muito sossegado. Para quando um novo texto/imagem/música?
:)
tem estado frio... a ver se esta tarde há tempo e disposição.
:)
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