O repórter da TSF estava dentro da sua cabeça. E depois alguém que falava castelhano, entremeado com palavras em português e depois alguém que falava português com sotaque do leste da Europa. Falavam de justiça no resultado, da necessidade de fazer mais e melhor. Assim tinha sido parte da jornada futebolística da véspera. A cabeça latejou-lhe. Quando estivesse realmente acordado, iria mudar o despertador de estação de rádio que, assim, era por demais violento passar dos sonhos para a realidade do país e do mundo.
O banho pouco o ajudou. À janela, sentia que se confundia com a manhã embaciada e cinzenta. Estava acordado, mas não desperto. Até ter pegado nas calças. Por duas razões, doeu-lhe ao vesti-las: não conseguiu evitar que roçassem onde as melgas lhe haviam impiedosa e abundantemente picado e porque aquele gesto representou o regresso à inevitável rotina de quem tem de trabalhar. O fim da rotina das férias.
Tinha levado para férias dois sacos com papéis e planos para eles. Pouco convictos, no entanto. E agora pensava nisso, que se partirmos para as coisas com pouca convicção, não se pode esperar outro desfecho que não seja regressarmos com os mesmos papéis dentro dos mesmos sacos. Intocados.
Lembrou-se de ter querido muito colocar os seus planos em acção, de ter mesmo chegado a fechar os olhos com força, numa tentativa infantil de que uma força exterior fizesse as coisas acontecerem. Em vão, claro, que não é uma questão de quantidade mas, antes, de qualidade.
Os papéis, esses, teriam de aguardar.
14 comentários:
Também levei o meu saco para as férias... Planos na cabeça... Projectos... Temos a ilusão que vamos fazer em duas semanas o que não fazemos no ano todo. Não deixa de ser apenas uma mão cheia de sonhos.
:) e temos sempre de voltar.
Gosto de te reencontrar por aqui.
*
Tá difícil, não tá?... O fim das férias é cada vez mais terrível!... Ainda estou na dúvida se vá de férias ou não!
Habituo-me tão bem às férias mas depois custa tanto voltar à rotina... Também os meus planos de férias, de organizar coisas, de adiantar coisas, vão ter de esperar...
o retorno à esquecida esquizofrenia social em que vivemos, não é?
e obrigada pelo comentário (há muito) deixado no meu blog também há muito abandonado!
Há já algum tempo que não passava por aqui...
Beijinhos de saudades!
... quando era miudo tinha um pequeno problema na fala: "comia" os "is". Se me perguntavam se era do benfica ou de sporting (lá tinha isto de vir á baila!) respondia na ponta da língua: "sou do sportng que é o maor".
Assim, quando perguntava ao meu pai "quando íamos às feras?" ele pegava-me no braço a levava-me de imediato ao Jardim Zoológico. De modo que as minhas férias enquanto criança, eram divididas entre aquela zona de sete-rios e o bairro da graça. Fosse julho ou agosto. Só mais tarde, quando em pleno verão comecei a namorar uma jovem que sonhava ser terapeuta da fala é que percebi como agosto podia ser um mês pequenino...
Uff... que susto!
Cheguei a pensar que ao tocar o telefone e ao retirar os olhos do cursor o coração ía parar.
Bem do mal o menos. Antes parar no primeiro dia de trabalho do que no primeiro dia de férias. Isso é que era azar a valer .
Beijinhos :))))
O raio do arrasto!...
E o coração deveria bater a outro ritmo qualquer...!...
(...)
Pequenino e pra piorar só acontece uma vez por ano!
;)
bjs
Pequenino e demenos (repetindo-me), que podem ser coisas diferentes.
:-)))
Sempre que leio os teus textos deparo-me com a dificuldade em dizer seja o que for para não estragar o momento. :) Agora já está estragado, como o mês...
beijo
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