O pai de um amigo meu fumava imenso e, à pergunta do porquê de não parar, respondia sempre que o seu organismo estava de tal modo dependente da nicotina que já não conseguia passar sem ela; mais, não encontrava nele a força de vontade necessária para conseguir deixar o tabaco. Já tinha tentado algumas vezes mas falhava sempre ao fim de pouco tempo.
Um dia teve um enfarte agudo do miocárdio e escapou por pouco, por muito pouco. Segundo o médico, foi uma segunda chance, como que nasceu de novo. Foi também avisado: o próximo cigarro seria o último.
Nunca mais fumou. Nesse dia percebeu com particular clareza o quanto queria viver.
O tal corpo que já não vivia sem nicotina, a tal força de vontade que lhe faltava, não significavam agora nada. Confrontado com a morte, foi fácil fazer aquilo que há bem pouco tempo lhe parecia impossível.
Pergunto: que necessidade é esta de sermos confrontados com algo definitivo para, finalmente, fazermos aquilo que até já sabíamos que devia ser feito?
O que é preciso para mudar-mos?
Por vezes, é preciso perdermos algo importante para que haja, dentro de nós, um impulso definitivo que nos leve a agir - talvez porque só tenhamos real consciência do que tínhamos quando o perdemos.
Talvez porque só aprendemos realmente à nossa custa, perante a factura que nos vêm cobrar.
Casa roubada, trancas na porta.
(O perigo de generalização existe, mas é assumido).
Na segunda-feira passada de manhã, conduzi a 130 Km/h na Segunda Circular, por entre o habitual trânsito intenso.
Tenho perfeita consciência do disparate, de que bastava um pequeno acaso – daqueles em que a vida é fértil -, para que algo de consequências potencialmente graves tivesse acontecido. E de que, caso algo tivesse mesmo acontecido, iria pensar muitas vezes que se pudesse voltar atrás…
Então porque não evitar antes que aconteça? Porque não prevenir?
Vem-me à ideia a natureza humana, mas disso eu percebo pouco, sei apenas que não o devia fazer, mas também sei que se amanhã o trânsito permitir, corro o risco de o fazer de novo.
Vou ser optimista (!!!): o primeiro passo para que se mude, penso ser o ter consciência da coisa – e esse está dado; o segundo, talvez seja ter consciência da coisa no momento em que estamos a fazer algo que sabemos ser realmente errado – sim, tudo bem; por último, seria conseguir evitar fazê-lo – a tal força de vontade em acção…e é aí que tudo se complica.
Simplista? É bem possível.
Este tipo de situações serão, ainda assim, mais fáceis de racionalizar, de nos deixar vislumbrar um modo de actuar, uma maneira de iniciar uma mudança. Quer-me parecer que, no que diz respeito às relações entre pessoas, as coisas são mais complicadas.
Quando, a determinada altura de uma relação amorosa, se percebe que algo não está bem, pura e simplesmente não paramos para analisar as coisas friamente, “hmmmm, isto não está bem, vamos lá mudar o que é necessário mudar”.
São muitas as coisas envolvidas, as dúvidas, as incertezas, os prós, os contras – há quem prefira até anular-se, de alguma maneira, a despoletar um conflito… vão recolhendo à sua concha.
O mesmo se passa nas relações sociais, profissionais e de amizade, em que impera um certo egoísmo/ego centrismo.
O que é, então, preciso para mudar-mos? O que é que nos dá a coragem necessária? Que acontecimento definitivo pode haver numa relação que nos faça tomar uma atitude?
30 comentários:
Rui , poderia te dar meu testemunho sobre deixar de fumar, e dizer a quem me ler que basta querer, sim , basta querer, e falo por experiencia propria, afinal quem manda em mim?!!Eu claro :)
E faço assim com todas as coisas que estão mal, isto é a lei da vida, sobrevive o mais forte, e eu adoro viver, posso não estar sempre certa, posso até em determinados momentos me sentir só, mas isso serve , tal como no sono, para repor energias, e voltar a luta da vida (tas a ver? com um post destes já escrevi um quilometro)
Beijos com carinho e continuação de boa semana, e se ouvir falar em fumos ai para esses lados já sei que vais ser tu a queimar, com tanta pergunta sem resposta, lollllll.
Olá
Acho que é preciso acontecer algo realmente drástico para nos chamar a atenção, seja em que contexto for. Caso contrário, a tendência parece ser deixar a coisa arrastar até mais não.
Essencialmente, há a necessidade de sentir motivação para alterar algo. Se esta não existir... deixamos arrastar.
E aproveitando a analogia dos cigarros: deixei de fumar há mais de 6 anos. Há cerca de 1 ano deu-me na cabeça e voltei a fumar. Desalmadamente. Resultado: agora sou asmática. E claro, deixei de fumar.
Uma observação em relação à queima de que fala a Lagoa_Azul: de facto, este post acho que bate o record de pontos de interrogação. Confesso que estive quase para os contar, mas resisti.
Não prometo emendar-me, são mais as perguntas que as respostas.
Muitas vezes quando sentimos que algo está mal, sim porque o sentimos e muito, fazemos de conta que não vemos, amanhã mudamos e assim por diante. Assim com as relações, connosco e com o trabalho... Para alguma coisa mudar, temos que mudar por dentro. Todas as mudanças partem de nós, não vêm de fora... como quase sempre nos pomos à espera... é assim que vejo.
bjinho ;)
E por vezes já é tarde... Beijinhos :)
É....
Pessoas que só aprendem à "cabeçada na parede", correm por norma, riscos demasiado grandes e desnecessários. Muitas vezes perdem. Estupidamente.
Infelizmente só passando muitas vezes por algo forte e dramático é que damos valor às prioridades da nossa vida. Abordas um assunto muito interessante...
... somos animais de hábitos, e facilmente nos acomodamos e deixamos andar. Tomar decisões que interfiram num desenrolar das coisas normal e sem sobressaltos, é inconscientemente apagado das nossas acções. Eu pecador me confesso.
Onde ando, onde ando? por aí a viver um pouco...a hibernar um pouco...
Deixei de fumar há dois anos...fui deixando um cigarro de cada vez...até já
BOM ANO!
th
É preciso estar atento, vigilante e avaliar muito bem o que está em causa, depois é preciso ser-se tão forte para mudar...
;)
Quanto ao tabaco..só o bafo dos fumadores...
Quanto à condução...faltam-nos disciplinas! Mas também me acuso. mas tenho melhorado, aqui há uns anos fazia Lisboa-Monte Gordo 3,5 horas (FIAT UNO 1.0 sem auto-estrada) agora demoro quase o mesmo tempo com um 1.4 e auto-estrada ...e tenho via verde.
E já fiz Sacavém - Alverca em hora e meia, pela A-1
Poderia dizer muita coisa, mas acho que apenas me resta dizer que faço minhas todas as tuas palavras.
Se mandamos em nós mesmos, afinal de que estamos à espera para mudar.
Beijito
:)
Bolas home!
Esta até doi.
Não sei bem porque, mas isto soa-me a ensaboadela...
Pergunto-me será?
Já vou tratar-te da saúde...quem sabe não te ajudo a resolver algumas incógnitas.
Beijinho amigão
A nossa sociedade (dita civilizada e evoluida, cristã) sempre escondeu a morte. É assunto tabu. Foram criados alguns rituais para a morte, mas de uma maneira geral, há sempre uma tentativa para a esconder, não se falar muito nisso. Ao contrário de outras socidades, lembro-me de que, no México existe a festa dos mortos, que, por sinal, até é uma festa bem alegre.
É claro que não acho que devemos falar na morte constantemente. Mas acho que devemos encara-la de outra forma e ter consciência dela. De uma forma mais natural, pois só assim a aceitaremos e fará parte de nós.
Fugir, escondermo-nos das coisas nunca resolveu nada. Ainda achamos, mesmo que inconscientemente, que a morte só acontece ao outros e que somos imortais.
Por exemplo, refletir sobre a morte é um hábito diário para os budistas. Analisar a morte "não para sentir medo", mas para "apreciar esta vida preciosa", diz o Dalai Lama, esse senhor sempre muito bem disposto.
E apreciar esta vida passa por termos consciência da nossa imortalidade e de encontrarmos formas de vivermos a vida da melhor forma ee darmos-lhe valor.
A propósito disto, vejam a "Noiva Cadáver" do Tim Burton, que aborda uma vida dos mortos bem mais alegre e colorida que a vida dos vivos.
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tambem tenho muitas perguntas uma das quais é:
/me pergunta baixinho, quais os numeros do totomilhões?
Quero ganhar, comprar um ferrari e estampar-me de seguida.
Uma morte com estilo ou não.
mentira mentira mentira,
a minha pergunta era se o SLB contrata mais alguem?
Boa posta Rui
Um abraço
Acho que o post não se refere tanto à morte e ao medo da morte, mas sim à nossa capacidade/força de mudarmos determinadas situações nas nossas vidas.
O medo de morrer pode ser uma razão para alterarmos algumas delas.
Ao contrario de ti ________, nunca me convencerão que a morte é uma coisa boa. A minha educação católica não o conseguiu, acho que mais nada o conseguirá.
Se pensares bem na Festa dos Mortos, quem se diverte são os vivos.
Por isso, tenham cuidado com vcs e sempre que houver risco de vida, mudem.
Nas outras situações, ponderem, temos mais tempo para pensar como dar o murro na mesa!
Eu tou aqui, muito caladinha, no meu cantinho, fumando o meu cigarrinho....
É-me tremendamente dificil deixá-lo.
Silvia
Devo ter-me exprimido mal :)
Eu não disse que a morte era uma coisa boa. Claro que não é. Se deixamos tudo e todos os que gostamos, como pode ser uma coisa boa?
Eu disse é que temos que encara-la com naturalidade e ter a consciência que ela eixste. Porque é...INEVITÁTEL. é a coisa mais certa desta vida, se não a única.
E como sei que a morte não é uma coisa boa, é que acho que temos que ter consciência de que vai acontecer de forma a dar ainda mais valor à vida.
Acho ainda que a consciência da nossa mortalidade produz alguma humildade pessoal e ajuda a relativizar as coisas. A saber dar importância ao que tem importância e não dar importância ao que não tem importância. Mas isso ja são outras histórias....
A minha forma de ver a morte, não é mais do uma celebração da vida. O contraponto.
E é claro que quem festeja a morte (a morte de uma forma generalizada e não a morte de alguem, claro) são os vivos, mas tambem são eles que a choram e, na minha óptica uma coisa não invalida a outra.
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Rui,
As questões que levantas são realmente pertinentes. O deixar de fumar ou o conduzir a grandes velocidades, são apenas alguns exemplos de acontecimentos diários que nos dão que pensar, e quem diz estes exemplos, diz outros...e basta pararmos um pouco para nos apercebermos de mais e mais questões importantes. Penso que o grande mal hoje em dia é o facto de estarmos serveramente enterrados no nosso mundinho, do stress diário, da rotina, do quotidiano...a vida hoje em dia e as exigencias que ela nos coloca, faz com que não pensemos muito em questões como as tuas e provoca nas pessoas uma vontade de viver cada dia como se fosse o ultimo e esquecer que para continuar a viver é preciso ser ponderado e racional nas atitudes que se tomam.
Bom fds beijinhos!
Normalmente é mesmo assim! Precisamos de um grande "abanão" para mudarmos alguma coisa na nossa vida. Mesmo que soubessemos há muito que o deviamos fazer. Mas saber não nos basta...
Pois é, todos nós temos consciência das coisas k fazemos mal, eu por exemplo sou fumadora, mas só percebemos a gravidade das situações qd acontecem coisas drásticas...seja qual for a questão só nos apercebemos do preço a pagar pelos erros depois, pq até la temos sempre a esperanca k tudo se resolva ou claro,k só aconteca aos outros!!
Beijinhos!!
Gostei do post... estou naquela fase em q preciso deixar de fumar. A minha consciência dita-o, o meu corpo obriga-me... mas tb sei q 22 anos a fumar têm mto peso, tenho consciência da minha limitação para lutar contra esses quase 2/3 da minha vida :( Qto a termos de perder p mudarmos, é uma grande verdade, seja a q nível for... damos demasiado por garantido: a vida, a saúde, o amor, os amigos... a eminência da perda (ou na pior das hipóteses a perda mm) são a meu ver, o grande motor para a nossa mudança!
LD
...o "é da natureza humana" não explica tudo, mas é um ponto de partida.
Não tenho nada contra quem pretende assumir riscos, contra quem não possa viver sem "altos valores de adrenalina". Nem os catalogo de gente com disfuncionalidades perigosas... desde que, não ponham os "outros" em causa.
Fumei durante uns anos; quando me apercebi dos perigos tabágicos, deixei de fumar; tão simples como isto. Foi difícil mas não impossível porque quem me comanda sou eu; não a nicotina... nem o carro. E tenho respeito pelos outros, que é o princípio básico de toda esta mecânica.
Por vezes temos qu eter um susto para mudar-mos...
saludos
Infelismente tomamos consciência do que é importante, com algo k nos assuste...
Vivemos despreocupados, pensando seriamente k as coisas só acontecem aos outros...
Felizmente muitos de nós mudam quando se assustam...
Sorrisos com beijitos
=P
Agora entendo o teu comentário no meu blog no post " Feio é fumar!".
Pois só se arrependem quando já é tarde!!!
Beijos e obrigada pela visita!!
Claro que não sei se tudo isto aconteceu de verdade... mas vou fazer de conta que sim, porque infelizmente, se não aconteceu contigo ou com os teus, acontece vezes de mais!
E eu que o diga...
A minha mami não deixa de fumar - por mais que tente, por mais que a chateie!
Eu vivi 22 anos "com vista" para a 2ª circular... qtas vidas ouvi perderem-se... que angústia senti tantas vezes mesmo não as conhecendo... pois sabia bem o qt dariam(os) tudo tudo para nao terem tentado passar ali áquela velocidade!!!
Mas ele não perdoa... não é previsível... e nem é assim tão justo...
Ah! e...
Qt às relações amorosas... o caso
é realmente menos "dominável", podes ter a certeza!
Qt às amizades... não concordo... acho que fácil (e faz todo o sentido) ter coragem para tomar todas as atitudes devidas/sentidas!
Tantas perguntas, tantas duvidas, tantas incertezas.........como eu te entendo amigo. Mas acredita que algumas decisões nao são assim tão faceis: Está mal logo muda-se. Antes fossem!
Beijocas
ss
Eu (que não fumo e como tal é-me fácil dizer, sei disso), vou mais longe que a Silvia e sugiro que não permitam sequer xegar ao ponto de correr risco de vida.
Mudem...quanto antes!
Que tal se olharem para as doenças provenientes do vício como "Maleficios da Felicidade" ? (muito naif esta! hehehe ;P)
Jinhitos
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